domingo, 20 de novembro de 2016

LEI ROUANET – 25 ANOS

TRAZ VANTAGENS, MAS TAMBÉM TEM IRREGULARIDADES. PRECISA MUDAR?


“Os departamentos de marketing das empresas terminam decidindo que projetos verão a luz, muitas vezes guiados por interesses próprios, não nacionais”. 

Juca Ferreira – Ex-Ministro da Cultura

 “É uma parceria público-privada em que o dinheiro é público e a decisão é privada”

Juca Ferreira – Ex-Ministro da Cultura


A Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei 8313 de 23 de dezembro de 91, foi sancionada durante o governo do ex-presidente Fernando Collor, para instituir o Programa Nacional de Apoio à Cultura – PRONAC. Também conhecida como Lei Rouanet (em homenagem a Sérgio Paulo Rouanet, que foi Secretário de Cultura do então Presidente), ela é o principal mecanismo de fomento à Cultura do país. A Lei, completará 25 anos em dezembro, e prevê três mecanismos de captação de recursos:

- O Fundo Nacional da Cultura;

- Os Fundos de Investimento Cultural e Artístico (Ficart);

- O mecenato, que prevê recursos de renúncia fiscal para projetos culturais.

Apenas este último mecanismo foi responsável por patrocinar quase 50 mil projetos em todo o país.

Mas o que vem a ser a Lei Rouanet?

A Lei Rouanet uma política de incentivo a diversas áreas da cultura (livros, preservação de patrimônio artístico, cultural, música, audiovisual, artes cênicas, etc), contemplando tanto artistas iniciantes e independentes de todo o país, quanto os de carreira já consolidada.

E como ela funciona?

O proponente (que pode ser tanto uma pessoa, como uma empresa), cria um projeto na área cultural, formata de forma detalhada e envia ao MinC para que seja analisado por especialistas. Ao ser admitido no Sistema, o Projeto ganha um selo da Lei Rouanet. Com isso, seu idealizador poderá apresenta-lo a empresas e pessoas interessadas em apoiá-lo, doando parte de seus impostos de renda.
Através de deduções no Imposto de Renda, é feito um abatimento de 100% do valor incentivado até o limite de 4% do Imposto devido por Pessoas Jurídicas e 6% por Pessoas Físicas. Os projetos culturais podem ser enquadrados no Artigo 18 ou Artigo 26 da Lei Rouanet. Se o Projeto se enquadrar no Artigo 18, o patrocinador poderá deduzir 100% do valor investido, desde que respeitado o limite de 4% do imposto devido para pessoa jurídica e 6% para pessoa física.
Caso o Projeto seja enquadrado no Artigo 26, o patrocinador do Projeto poderá deduzir em seu I.R., o percentual equivalente a 30% (no caso de patrocínio) ou 40% (no caso de doação), para PJ, e 60% (no caso de patrocínio) ou 80% (no caso de doação), para PF. A dedução acontece no IR do ano seguinte.
O governo cede parte dos impostos que tem a receber tanto de PF, como de PJ, para destinar a iniciativas diversas na área cultural. Com isso, por meio de dedução de impostos, pessoas e empresas têm a opção de destinar uma parte do imposto aos projetos culturais aprovados. A Lei não permite recursos diretos oriundos do Governo Federal, mas apenas de renúncias fiscais.
Mesmo sendo doado por empresas ou pessoas (os mecenas doadores), o dinheiro indiretamente vem do Estado, pois trata-se de Impostos devidos e não recolhidos, cujo destino é determinado por empresas e pessoas que liberam as verbas para incentivo dos Projetos aprovados pelo MinC.

Quem aprova e como os Projetos são aprovados?

Os Projetos são aprovados pelo MinC, por meio da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura -  CNIC, que é composta por representantes de artistas, empresários, e sociedade civil de todas as regiões do país. Os Projetos submetidos à Comissão são analisados sem critérios ideológicos. De acordo com o MinC, “o posicionamento político, artístico, estético ou qualquer outro relacionado à liberdade de expressão não é objeto de análise, sendo que a Lei veta expressamente apreciação subjetiva quanto ao seu valor artístico ou cultural”

Todos os Projetos aprovados ficam disponíveis no site e até mereceu uma nota de esclarecimento informando seu caráter não político de escolha.
Segundo o MinC, os integrantes da Comissão não são remunerados, mas recebem ajuda de custo para participar das reuniões. Sua composição tem vigência de dois anos, para então ser renovada.

Onde ocorrem tais reuniões?
A comissão(CNIC) se reúne mensalmente visando avaliar os Projetos que recebem para análise. Suas reuniões vinham sendo transmitidas ao vivo, via INTERNET, que podiam ser acompanhadas através Portal do MinC, mas atualmente esta opção está desabilitada no Portal. Seis reuniões são realizadas em Brasília, as outras cinco são itinerantes, realizadas em cada uma das regiões do país.

E depois que o Projeto for aprovado, o que acontece?
Ter um projeto aprovado pelo MinC, não garante o patrocínio direto do Governo a este Projeto. A aprovação é uma AUTORIZAÇÃO para captação de incentivos via empresas ou pessoas, que em troca recebem abatimentos no I.R., correspondentes aos valores doados, e dentro dos limites impostos pela Lei. O prazo de captação é de um ano, podendo ser renovado por mais seis meses. O investidor(mecenas) deposita o valor que deseja patrocinar em uma conta bancária do Projeto(que é aberta e supervisionada pelo próprio MinC) até o último dia útil do ano corrente. Após o depósito efetuado, a empresa ou pessoa que propôs o Projeto, emitirá um recibo para o seu patrocinador, que servirá como comprovante de dedução do I.R.

E quem são os beneficiários dos Projetos?

Tanto pessoas que atuam na área cultural(artistas, produtores culturais, técnicos da área de cultura) como empresas públicas(autarquias, fundações culturais, etc), ou privadas(empresas, cooperativas, fundações, ONGs, organizações culturais), com ou sem fins lucrativos que atuem na área cultural, podem se habilitar aos incentivos da Lei.
As Pessoas Físicas podem inscrever até dois Projetos. As empresas podem inscrever até cinco Projetos, que devem ser apresentados sempre entre 1º de fevereiro e 30 de novembro de cada ano através do site: http://novosalic.cultura.gov.br/.

E quem são os maiores incentivadores?

No site do MinC  estão disponibilizados os dados referentes aos incentivadores culturais no país, organizados por PF ou PJ, data e região.
No ano de 2015 os maiores incentivadores foram: BNDES, BB, BRADESCO, ITAUCARD, e CIELO.

No ano de 2014 Vale do Rio Doce e Samsung apareceram entre as 10 mais.

Tem também empresas como PETROBRÁS, ELETROBRÁS, CSN, GERDAU, SOUZA CRUZ, REDECARD, OI/TELEMAR, ITAÚ, FURNAS, C&A, AMBEV, CBA, BANCO BMG, AVON, CEF, dentre outras.


A Lei tem controvérsias e críticas?

Se de um lado a Lei veio a favorecer e a incentivar projetos culturais, melhorando muito em nosso país as iniciativas de produção cultural, de outro vem sofrendo muitas críticas de todos os lados. Mas ultimamente vem prevalecendo uma crítica de cunho político, devido à polarização das disputas políticas em nosso país, em que pessoas e grupos têm espalhado informações que a Lei Rouanet vinha favorecendo pessoas e empresas com simpatias ao PT, em detrimento de outras, que não se alinhavam aos pensamentos do partido.
Mas infelizmente estas informações não são verídicas, e podem ser verificadas pela diversificação das pessoas e empresas que recebem autorização de busca de financiamentos, que tanto são favoráveis, como contra o PT.

Pode-se verificar também que os valores aprovados pela CNIC, não são captados em sua totalidade


Uma outra crítica muito pertinente é com relação a aprovação de projetos com um potencial lucrativo certo e forte, neste caso podemos estabelecer uma relação direta entre artista e sucesso, pois artistas que conhecidos, e que aparentemente não necessitariam de incentivos financeiro do governo, representam a maioria dos que são incentivados pela Lei e continuam pedindo (e recebendo) aportes da Lei Rouanet. Artistas como CLÁUDIA LEITTE, LUAN SANTANA, e outros não necessitam de apoio governamental para financiar seus projetos. Luan Santana, por exemplo, recebeu R$ 4 Milhões via Lei Rouanet, para realizar sua turnê. A Lei garante? Sim. Mas deveria haver critérios. Pois analisemos isoladamente o caso do Luan Santana. Só de cache, ele aparentemente cobra R$ 300 Mil por cada show, realizando mais de 5 shows por semana. Caso ele fique com R$ 200 Mil de cada show, em uma semana de shows, ele arrecadaria 25% do valor solicitado, e em 30 dias ele arrecadaria o valor solicitado junto ao MinC.

Claúdia Leitte recebeu R$ 5.883.100,00(mas terá que devolver R$ 1,2 Milhões) para realizar uma turnê pelo Nordeste, com 12 shows, tem ainda nomes como RITA LEE, DETONAUTAS, LOBÃO(anti PT), tem a empresa Time For Fun(T4F),  líder no mercado de entretenimento ao vivo na América do Sul, vencedora do prêmio Top International Independent Promoter pela Billboard Touring Awards nos anos de 2009, 2010, 2012, 2013 e 2014, e vencedora do Prêmio Caboré 2012, o maior prêmio da indústria de comunicação e mídia do Brasil”, que recebeu R$ 35 Milhões para o musical do Rei Leão. Uma empresa com estas qualificações e poderia econômico, necessitaria destes valores?

O correto seria incentivar Projetos em que o mercado não tem condições de sustentar, representados por artistas desconhecidos, que estão iniciando suas carreiras, ou que pertencem a segmentos de difícil acesso de público.
Mas existem muitos outros beneficiários que literalmente se “lambuzam” com a Lei Rouanet, sem ao menos sofrer uma vírgula de críticas de alguns segmentos como sofrem aqueles artistas que também são beneficiados pelos incentivos da Lei(como o caso do ator José de Abreu, que acabou se envolvendo numa discussão ao ser ofendido em um restaurante em SP, onde jantava com sua esposa, e que reagiu com uma cusparada na cara do casal – só abro um destaque para este fato: o casal em questão alega que Abreu, tomou uma atitude “incompatível com a civilização do Século XXI”. Mas, impensada, ou não, incompatível ou não, o casal que recebeu a “cusparada”, se estivesse realmente com sua razão, teria processado o ator, mas se limitou a divulgar uma nota deixada para a imprensa. Inclusive teve gente que veio em defesa do casal e consultou advogados para saber se “cuspir na cara de alguém é crime”, realmente ´cuspir ou bater na cara de alguém em público se caracteriza como uma “injúria real”, mas o contexto dos fatos precisa ser analisado. Se José de Abreu aleatoriamente entrasse no restaurante, escolhesse alguém e cuspisse em sua cara, de fato seria crime. Mas ao ser “ofendido” publicamente, e ver sua esposa também sendo ofendida, era normal que houvesse uma reação, que poderia ser a de ignorar, ou uma discussão, ou até mesmo uma agressão física).

Para terminar com o episódio José de Abreu, que teve suas contas reprovadas pelo MinC, e teria que devolver R$ 300 mil ao Ministério, caso não consiga apresentar justificativas, ele está sofrendo este patrulhamento apenas por ser simpatizante do PT. Como eu disse antes, diversos artistas (LOBÃO por exemplo), mesmo os que são contra PT, recebem incentivos da Lei Rouanet. Mas não são criticados nem chamados de “ladrão da Lei Rouanet”.
Outros que recebem são:

Aventura Entretenimento Ltda -  de Luiz Calainho – R$ 20 milhões

Tomie Ohtake - R$18 milhões

Museu da Arte em São Paulo - R$17 milhões;

Itaú Cultural - R$15 milhões;

T4F Entretenimentos - R$14 milhões;

Fundação Bienal - R$12 milhões;


Entre os maiores beneficiários estão empresas como A Rede Globo, Museus de artes ligados ao Governo de São Paulo, empresas privadas, como o Banco Itaú, e Fundações como a Fundação Roberto Marinho. A Fundação é uma das maiores captadoras de recursos da história da Lei Rouanet. Já foram aprovados 40 Projetos proposto pela instituição, cuja captação total foi de mais de R$ 178 Milhões – destaque se dá para o seu maior doador: A REDE GLOBO. Quer dizer que a Rede Globo deixa de recolher Impostos para canalizar recursos para uma empresa ligada a ela mesmo. Tudo isso com a complacência da Lei, sem ninguém para fiscalizar ou coibir.

A empresa “Moeller & Botelho Produções Artísticas Ltda, do diretor Claudio Botelho, que recentemente brigou com a plateia por atacar Dilma Rousseff num espetáculo em homenagem a Chico Buarque, realizou quatro projetos, num total de mais de R$ 20 milhões aprovados e R$ 8 milhões efetivamente captados”.

Claudio Botelho ainda consta na ficha técnica de no mínimo outros 24 projetos incentivados pela Lei Rouanet, somando uma aprovação de quase R$ 74 milhões e captação de quase R$ 45 milhões.”
Atualmente, há três projetos da Moeller & Botelho Produções Artísticas Ltda aprovados para captação, somando autorização de mais de R$ 16 milhões.”
O próprio Instituto ligado ao FHC recebe incentivos da Lei Rouanet. “O Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC) e a Fundação iFHC captaram um total de mais de R$ 14 milhões para realização de três projetos.”
O mais recente, “Fundos Documentais do Acervo Presidente FHC: descrição e difusão”, teve aprovação para captação de mais de R$ 6,2 milhões e realizou captação de R$ 2,2 milhões.”
Há muita gente que era contra o governo anterior, mas mesmo assim nunca deixou de receber incentivos da Lei Rouanet. Confira abaixo:
Por não haver uma fiscalização mais rigorosa, muitos projetos são maximizados ou até mesmo suas verbas são aprovadas sem uma maior distinção. Bastando um pente fino ou uma auditoria para se verificar irregularidades, como mostrado no Post abaixo:

“O Ministério, porém, não tem estrutura para analisar todas as prestações de conta que recebe por ano. Em suas gavetas há cerca de 10 mil processos não analisados. “Esse atraso permite aos produtores que continuem usando os benefícios do incentivo fiscal, mesmo que, eventualmente, tenham cometido alguma irregularidade”, diz Henilton Menezes, ex-secretário de fomento do Ministério”

O então “Ministro da Cultura, Juca Ferreira, defendia mudanças na lei. Uma de suas primeiras propostas é que seja estabelecido um teto de até 80% de restituição do valor do imposto às empresas. Os 20% seriam disponibilizados para o Fundo Nacional de Cultura. A outra alteração é para garantir que exista um equilíbrio entre os projetos aprovados e todas as regiões do Brasil. ”
“Tramita no Senado um projeto para substituir a Rouanet. Veta a destinação de recursos para financiar coleções particulares ou circuitos privados de exibição de arte, com exceção de móveis e imóveis tombados e prevê a criação de mecanismos para equilibrar a origem das propostas aprovadas. Clique aqui para saber mais.”

Mas, o Projeto 6722/2010, atualmente está parado no Congresso.

Leia mais em:


























Um comentário:

  1. Globo captou, pela Fundação Roberto Marinho, R$ 147 milhões na Lei Rouanet sob o PT. Por Kiko Nogueira

    http://www.diariodocentrodomundo.com.br/globo-captou-pela-fundacao-roberto-marinho-r-150-milhoes-na-lei-rouanet-sob-o-pt-por-kiko-nogueira/

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